quarta-feira, 22 de junho de 2011

Diagnóstico da Hipertensão Arterial: novos conceitos e critérios

       Essa é uma das postagens que irão abordar as vídeo-aulas disponibilizadas pelo site da Sociedade Brasileira de Hipertensão, as quais cada uma das integrantes do grupo teve acesso mediante cadastro na situação de estudantes de medicina.
        Na aula inicial,"Diagnóstico da Hipertensão Arterial: novos conceitos e critérios", o Prof. Dr. Décio Mion, conselheiro da Sociedade Brasileira de Hipertensão, ressalta a importância da avaliação da pressão arterial fora do consultório, complementando o diagnóstico de risco mais preciso, além de auxiliar no efeito da medicação ao longo prazo.
        A hipertensão arterial é diagnosticada pela detecção de níveis de pressão arterial elevados obtidos com a medida casual da pressão arterial (PA). A medida da pressão arterial é o elemento-chave para o estabelecimento do diagnóstico e também para avaliação da eficácia do tratamento. Deve ser realizada em toda avaliação de saúde por médicos de qualquer especialidade e demais profissionais de saúde, todos devidamente capacitados, com preparo adequado do paciente, técnica adequada e equipamento calibrado.
        A medida da PA em adultos faz parte das diretrizes de todos os países ,e para isso, os equipamentos para medição devem ser validados e calibrados. A validação se dá quando o  aparelho passa por procedimentos que demonstram que valor que é mostrado pelo aparelho é o valor que seria mostrado por um aparelho de uma coluna de mercúrio obtido por dois observadores treinados. Já a calibração significa que comparado a um gerador de pressão, tem a mesma pressão gerada por esse equipamento.
        Existem diferenças entre as classificações da pressão arterial brasileira ou européia e americana. A maior parte das diretrizes segue a classificação brasileira.Essas diferenças já causaram muita confusão, mas hoje a classificação utilizada já é bem estabelecida.

          O objetivo do uso da tabela de classificação da pressão arterial é identificar pacientes com risco cardiovascular elevado.
         São quatro as possibilidades diagnósticas relativas ao valor de pressão arterial: hipertensos, normotensos, hipertensos do avental branco e hipertensão mascarada.

         Mesmo quando as medições de PA são realizadas
com técnica apropriada e de maneira repetida, podem ocorrer
 duas situações, a hipertensão do avental branco e a
 hipertensão mascarada. Quando se superestima os valores
 de pressão arterial, ocorre a hipertensão do avental branco.
Já quando se subestima os valores de pressão arterial,
 ocorre a hipertensão mascarada.

       Estudos comprovam que medidas de pressão arterial obtidas pelo médico são geralmente maiores que as obtidas por enfermeiras ou pelos próprios pacientes residencialmente.
        Para a maior parte das pessoas, a presença do médico pode ocasionar o aumento da pressão arterial, causando o efeito do avental branco. Afeta mais a umas pessoas que a outras, podendo fazer um paciente normotenso aparentar ser hipertenso, por exemplo. O risco cardiovascular desses pacientes é parecido com o risco daqueles que apresentam normotensão.
        A hipertensão mascarada é justamente o efeito contrário, pois se traduz na pressão normal no consultório e fora desse pressão alta. O risco desses pacientes se aproxima daqueles com hipertensão. Parte do risco se dá porque, em geral, é sugerido ao paciente que volte a consultar sua pressão em 6 meses a um ano.O ideal seria que todos os pacientes pudessem ter sua pressão arterial medida sempre que possível, em ambulatórios ou na sua própria residência.  

       Para chegar a um diagnóstico final confiável, é necessária a medição fora do consultório. Para isso são utilizadas duas técnicas, a MAPA (Medida Residencial da Pressão Arterial) e MRPA (Medida Residencial da Pressão Arterial).
       MAPA é um método automático de medida indireta da pressão arterial durante 24 horas, enquanto o paciente realiza suas atividades rotineiras, inclusive durante o sono.De acordo com a IV diretriz  brasileira de MAPA: “Dentre os parâmetros obtidos pela MAPA,  as médias de pressão arterial são os melhores dados a serem analisados, por apresentarem maiores índices de correlação com diagnóstico, lesão em órgãos-alvo e prognóstico cardiovascular, tendo sido o único parâmetro relacionado a mortalidade.”
        A MAPA possui benefícios inclusive para pacientes que estão sob tratamento da pressão arterial. MAPA ajuda também em diagnósticos de hipertensão do avental branco e hipertensão mascarada, e o prognóstico tem valor nos indivíduos que são hipertensos ou normotensos.
        Atualmente já existem monitores digitais confiáveis que permitem que o paciente faça a monitorização residencial da pressão arterial corretamente.
        Do ponto de vista clínico, a MRPA tem, principalmente, as seguintes indicações:
          • confirmar o diagnóstico de hipertensão arterial;
          • avaliar a eficácia da terapia anti-hipertensiva em diferentes
períodos do dia e ao longo do tempo;
          • estratégia para melhorar a adesão à terapia antihipertensiva
e o controle da pressão arterial.
         Na realidade, evidências acumuladas ao longo dos anos demonstram,com clareza, uma série de vantagens da MRPA em relação à medida de consultório e até mesmo em relação à monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA)

                     As diferentes formas de medição se completam, a do
 consultório( possui a presença de médico apesar de
 possibilitar poucas medições da PA), a ambulatorial ( permite
 um acompanhamento por 24 horas do paciente) e a
residencial ( permite várias medições da PA e apresenta um
 indivíduo mais calmo).

       Ao longo dos anos, foi-se tornando cada vez mais evidente que as medidas de vigília, 24 horas e sono  são mais relacionadas com risco de mortalidade cardiovascular do que a medida no consultório.Vem daí a importância da MAPA e da MRPA.
       Segundo pesquisas, a queda ou não da pressão arterial durante o sono possui valor prognostico importante. Pacientes que não tem esse descenso(queda da pressão arterial) e pressão arterial elevada apresentam 5,37% de  risco de mortalidade cardiovascular do que aqueles que possuem descenso e pressão arterial normal.
        Há muito que se fazer em relação à medida da PA, pois segundo pesquisa realizada pelo Datafolha, ao se entrevistar 483 cardiologistas,nefrologistas e clínicos por telefone, verificou-se  que a média da quantidade de pacientes hipertensos que eram recomendados a fazerem o exame de MAPA era 28%, que é uma porcentagem muito baixo. Evidenciou-se também que apenas 68% dos médicos entrevistados recomendam a seus pacientes hipertensos o procedimento de medir a pressão arterial fora do consultório, em casa ou farmácias por exemplo. Essa pesquisa mostra que ainda há muita coisa a ser mudada para que a população de hipertensos brasileiros tenha um tratamento mais digno e completo.

                      http://departamentos.cardiol.br/dha/revista/15-4/10-artigo-revisao%20.pdf

Postado por: Jessica Lucena Wolff



domingo, 19 de junho de 2011

Médicos australianos apresentam nova técnica para reduzir hipertensão arterial

   Após anos sem novidades significativas, o tratamento da hipertensão recebeu uma renovação em dezembro de 2010. Cientistas australianos anunciaram os primeiros e bem-sucedidos resultados de uma terapia que usa a radiofrequência para controlar a pressão arterial. Os detalhes da pesquisa que avaliou a técnica foram revelados em um artigo publicado na versão online da prestigiosa revista científica "The Lancet" e logo entusiasmaram os especialistas.
   O método foi aplicado em 106 pacientes. Em comum, eles tinham anos e anos de tratamento sem efeitos definitivos: portavam uma hipertensão resistente até mesmo aos três medicamentos que tomavam, em média, diariamente, havia cinco anos. Em geral, a pressão sistólica do grupo era 17 mmHg, acima dos 12 mmHg recomendados.
   A equipe do Instituto Baker IDI para tratamento do coração e diabetes, em Melbourne, dividiu os pacientes em dois grupos: os integrantes do primeiro grupo foram tratados com a nova técnica e com a medicação tradicional; no segundo grupo, os pacientes só tomaram os remédios.
    Após seis meses, os pesquisadores constataram que 84% dos pacientes tratados com o dispositivo conseguiram reduzir a pressão arterial numa média de 3,4 pontos, enquanto que, no grupo de controle, só 35% deles alcançaram esse resultado.
   A radiofrequência foi usada para neutralizar a atividade dos nervos ligados aos rins. Esses órgãos desempenham papel importante no surgimento e manutenção da hipertensão (rever postagem anterior sobre controle renal) e já se sabia que uma hiperestimulação nervosa na região também está associada ao problema (rever postagem sobre controle neural). Portanto, controlar o funcionamento dessa cadeia nervosa poderia ser uma forma de atacar a doença. Na verdade, a estratégia já havia sido tentada antes, mas cirurgicamente (os nervos foram cortados). Porém, não surtiu efeito.
    A aplicação da radiofrequencia, ao contrário, conseguiu baixar em média em três pontos a pressão arterial dos participantes, em uma única sessão. "Demonstramos que o método é seguro e apresenta efeitos por mais de dois anos", disse Murray Esler, coordenador do trabalho. "Ainda há questões a serem esclarecidas, mas o resultado é animador", complementou Suzanne Otaril, da Universidade do Alabama, nos EUA. Os cientistas preveem que a técnica esteja disponível para os pacientes em geral em 2011. Ela já foi aprovada para ser usada na Europa e, segundo a empresa norte-americana fabricante do aparelho, está sendo negociada a sua aprovação pela FDA, agência que regula esse tipo de procedimento nos EUA.
 

  
  









                                                                     Assista ao vídeo:




 
Fonte: http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM1377670-7823-MEDICOS+AUSTRALIANOS+APRESENTAM+NOVA+TECNICA+PARA+REDUZIR+HIPERTENSAO+ARTERIAL,00.html
e revista IstoÉ.
Post realizado por: Tainá Vieira Nilson.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

A saúde da presidente Dilma Rousseff


Como vocês já devem ter se informado, a saúde da presidente Dilma Rousseff não estava nada bem no fim de abril e durante quase todo o mês de maio deste ano. A revista Época do dia 28 de maio de 2011 (edição 680) publicou uma reportagem sobre o estado de saúde da presidente, falando sobre o seu recente quadro de pneumonia, sobre as doenças crônicas que ela tem e revisando o câncer linfático e a gripe suína em 2009.
Nós do blog lemos a referida reportagem e não pudemos deixar de notar que o sistema cardiovascular marcou presença no relatório sobre a saúde da nossa chefe de Estado. Além de precisar tomar anti-hipertensivo às vezes, de usar a coenzima Q-10 (um suplemento de fibras), que protege o coração devido às suas propriedades antioxidantes e de ter apresentado um princípio de trombose na veia cava por um coágulo, Dilma possui outras complicações que interferem no coração ou na pressão arterial (sendo uma delas o diabetes tipo 2, cuja relação com os problemas cardiovasculares abordaremos posteriormente em outra postagem).
Uma das complicações de Dilma é a doença de Hashimoto, que é a causa mais comum de hipotireoidismo e que faz com que sua glândula tireóide quase não produza mais hormônios. Por isso, ela tem que tomar doses diárias de tiroxina (T4), o qual, junto com a triiodotironina (T3), interfere no ritmo cardíaco. Esses hormônios aumentam a capacidade contrátil do miocárdio, por meio por de alterações estruturais na enzima ATPase, envolvida na produção de energia para as células. Alem disso, elevam o metabolismo basal do organismo humano, que gera maior consumo de oxigênio pelos tecidos, garantido por vasodilatação e aumento do débito cardíaco (quantidade de sangue bombeado pelo coração).

A presidente ainda apresenta baixos níveis de potássio e por isso toma o medicamento Slow-K para reverter o problema, visto que o íon potássio protege contra o aumento da pressão e o acidente vascular cerebral. Para explicar tal benefício, vários mecanismos têm sido sugeridos, como a diminuição dos níveis da renina plasmática, a inibição da formação de radicais livres e o aumento da atividade da enzima Na+/K+-ATPase, aumentando a captação celular do potássio e reduzindo o sódio intracelular.
O quadro clínico de Dilma Rousseff nos faz perceber que as doenças cardiovasculares podem atingir a qualquer um, rico ou pobre, feio ou bonito, desempregado ou presidente de um país. Por isso, devemos fazer o que estiver ao nosso alcance para nos prevenirmos e levarmos uma vida saudável, de modo a minimizar os efeitos negativos dessas doenças, se elas ocorrerem, e promover a saúde.

Revista Época (28 de maio edição 680)


Postado por: Amanda de Oliveira

domingo, 12 de junho de 2011

Estudo mostra que ainda é pequeno o número de pacientes hipertensos com PA controlada em consultórios no Brasil

Hipertensão rterial é uma doença direta ou indiretamente responsável pelas altas taxas de morbidade e mortalidade decorrentes das doenças cardiovasculares. O risco de acometimento de doença arterial coronariana (DAC) e de acidente vascular cerebral (AVC) é crescente a partir de médias de pressão de 115 x 75 mmHg, sendo que para cada 20 mmHg acrescidos à pressão arterial sistólica ou 10 mmHg para a pressão arterial diastólica, ele dobra.
Por isso, as classificações do comportamento da pressão arterial têm sido atualmente mais rigorosas, como mostrado na tabela a seguir.
Metas de valores de PA a serem atingidas com o tratamento para hipertensão arterial para determinados grupos de pacientes, segundo as V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão (V DBH).
Categorias
Meta mínima    de pressão arterial*
A - HA estágio 1 e 2 Risco baixo e médio
< 140 x 90 mmHg
B - HA e PA limítrofe Risco alto
< 130 x85 mmHg
C - HA e PA limítrofe Risco muito alto**
< 130 x 80 mmHg
D - HA com nefropatia Proteinúria (perda de proteína) > 1g/l
< 120 x 75 mmHg
*Se o paciente tolerar recomenda-se como tratamento valores de pressão menores que os indicados, alcançando, se possível, PA considerada ótima (≤ 120 x 80 mmHg). ** incluindo-se diabetes mellitus. HA - hipertensão arterial; PA - pressão arterial.

Como o controle da pressão arterial (PA) está diretamente ligado à redução dos agravos decorrentes da hipertensão arterial, é de grande importância que os pacientes com hipertensão arterial sejam tratados corretamente, para que possam usufruir os benefícios decorrentes do tratamento anti-hipertensivo. Contudo, ainda é pequeno o número de pacientes diagnosticados que fazem o tratamento e que têm PA controlada em todo o mundo.
           Um artigo de pesquisadores participantes do Estudo Controlar BRASIL avaliou, no ano de 2008, o percentual de pacientes sob tratamento anti-hipertensivo que estão dentro das metas estabelecidas para a sua condição específica. 2810 pacientes entre 21 e menores de 80 anos, provindos de convênios médicos ou pertencentes à clínica privada, participaram do estudo, e cada pesquisador avaliou, durante cinco dias consecutivos, os dois primeiros pacientes atendidos que cumprissem certos critérios de inclusão pré-determinados. Características dos pacientes como idade, estatura, gênero, peso, tabagismo, obesidade, diabetes, doença arterial coronariana, entre outras foram anotadas.
           Nesse grupo de pacientes, 37,51% pertenciam à categoria A, 24,52% à B, 26,98% à C e 10,99% à D (categorias mostradas na primeira tabela). Além disso, 32,5% faziam uso de apenas um medicamento, enquanto os outros 67,5% usavam mais de uma medicação anti-hipertensiva.
Na análise total, independentemente da condição a que se enquadravam os indivíduos, 1.497 (53,3%) deles apresentavam PA < 140 x 90 mmHg. Quanto ao controle específico para cada grupo, os dados estão na tabela abaixo.

Números e porcentagens de indivíduos avaliados e com controle da pressão arterial segundo as metas definidas pelas V DBH
Grupo
Nível desejado
Número (%) avaliado
Número (%) controlado
A
<140 x 90 mmHg
1.054 (37,51)
650 (61,7)
B
<130 x 85 mmHg
689 (24,52)
293 (42,5)
C
<130 x 80 mmHg
758 (26,98)
317 (41,8)
D
<120 x 75 mmHg
309 (10,99)
100 (32,4)
Total

2810 (100)
1.360 (46,5)


            Os percentuais de controle obtidos nesse estudo foram muito abaixo do desejado, assim como os resultados obtidos em outras pesquisas nacionais e internacionais também. Entretanto, a amostra não é representativa da população de pacientes com hipertensão arterial no Brasil, mas sim daqueles atendidos em clínicas e ambulatórios particulares. Essa falta de dados de fato representativos do perfil dos hipertensos brasileiros (os dados disponíveis são isolados e muito variáveis) é um dos problemas que dificultam o monitoramento do controle da doença, o que leva a um certo descaso em relação a ela por parte da sociedade, de maneira geral. 
Outra conclusão desse estudo foi que, além de presença de tabagismo, diabetes mellitus e doença arterial coronariana, o aumento da circunferência abdominal também dificulta o controle da pressão arterial (a cada 1 cm a mais, o controle é reduzido em 2%), devido ao aumento da gordura visceral.

Os fatores que contribuem para o baixo valor de controle da pressão arterial provavelmente são: baixa adesão às prescrições, custos dos medicamentos, crenças sobre o tratamento e à própria doença, baixa frequência às consultas, dentre outros.
Essa pesquisa, feita há alguns anos atrás, pretendia ser útil para que ações fossem tomadas em busca de melhores taxas de controle, a partir das conclusões por ela geradas. Nós esperamos que isso realmente aconteça, dada a gravidade da hipertensão arterial quando não cuidada, e esperamos também ter ajudado a divulgar o trabalho feito pelo Estudo Controlar BRASIL, de modo a conscientizar cada vez mais pessoas.

Fonte: http://www.deciomion.com.br/medicos/artigos/artigos_decio/Controle%20da%20Press%C3%A3o%20Arterial%20em%20Pacientes%20sobre%20Tratamento%20Anti-Hipertensivo%20no%20Brasil%20-%20Controlar%20Brasil.pdf


Postado por: Amanda de Oliveira

Veneno de escorpião e aranha ajuda a combater a pressão arterial

Vamos para as curiosidades ?? Uma pesquisa mostrada pelo Globo Repórter mostra uma maneira BEM DIFERENTE do combate à hipertensão! Vejam o vídeo 

Post realizado por Teresa Tristão

terça-feira, 7 de junho de 2011

Tabagismo e Hipertensão Arterial

   Introdução

   O tabagismo é um importante fator de risco para as doenças cardiovasculares, em particular para o infarto do miocárdio, o acidente vascular cerebral e a morte súbita. Por outro lado, a relação entre o tabagismo e o desenvolvimento de hipertensão arterial é ainda motivo de controvérsias. Apesar dos efeitos agudos do cigarro sobre a pressão arterial, vários estudos epidemiológicos não demonstraram associação entre o tabagismo e a hipertensão arterial. Entretanto, os estudos epidemiológicos são realizados com medidas casuais da pressão arterial, ao passo que tem sido demonstrado que, nos fumantes, a medida casual da pressão arterial é inferior à observada na monitorização da pressão arterial quando esses indivíduos estão expostos ao uso do cigarro.
   De fato, a pressão arterial ambulatorial é mais elevada em fumantes do que em não-fumantes que apresentam pressões arteriais de consultório semelhantes.


 Efeitos hemodinâmicos do fumo 



   O fumo induz profundas alterações hemodinâmicas que podem ser diferentes de acordo com a ausência ou presença de doenças cardiovasculares. A resistência vascular mostra, na maioria dos indivíduos, aumento, que pode ser atribuído à vasoconstrição (com redução de fluxo sanguíneo), observada em territórios esplâncnico (referente às vísceras), muscular e cutâneo.
  As artérias grandes e médias também participam no aumento da resistência periférica, pois foi demonstrado que o fumo diminui a distensibilidade e as propriedades viscoelásticas dessas artérias.
   Estudos que utilizaram técnica ultrassonográfica, que permite a avaliação dinâmica da complacência vascular durante todo o ciclo cardíaco (sístole e diástole), mostraram que, tanto na artéria radial (artéria muscular) quanto em carótidas (artéria elástica), há importante redução do diâmetro diastólico, da distensibilidade e da complacência vascular após o fumo de um cigarro, causando, portanto, enrijecimento vascular sistêmico.
   Esses achados indicam que o fumo reduz as propriedades elásticas dos vasos arteriais por agir sobre o tônus do músculo liso, tanto por ação direta, quanto por redução da produção de óxido nítrico pelo endotélio.
   As respostas hemodinâmicas regionais à nicotina e aos inúmeros componentes do cigarro podem diferir entre indivíduos normais e pacientes portadores de doenças cardiovasculares. Assim, em estudo realizado em fumantes crônicos, observou-se que, em pacientes com lesões coronárias graves, o fumo do cigarro causou vasoconstrição coronária, com redução de 10%-12% no fluxo sanguíneo coronário, enquanto que aqueles que não apresentavam tais alterações tiveram respostas metabílicas normais (aumento do fluxo e redução da resistência vascular). Pode-se concluir que, apesar do aumento da frequência cardíaca, da contratilidade ventricular e do aumento da demanda de oxigênio pelo miocárdio (o que poderia requerer um aumento do fluxo sanguíneo coronário), o fumo causa vasoconstrição de artérias coronárias, principalmente nas com lesões ateroscleróticas.
   Os efeitos adversos do fumo não estão limitados à circulação coronária, mas estendem-se também para a própria função do músculo cardíaco, a qual parece depender da integridade do mesmo.
   Nos vasos cerebrais, o fumo pode reduzir o fluxo sanguíneo de maneira semelhante ao observado na circulação coronária. Em um estudo realizado com cerca de 200 indivíduos fumantes e não-fumantes, demonstrou-se uma redução significativa do fluxo sanguíneo em massa cinzenta no grupo fumante comparado ao não-fumante, independentemente da presença de outros fatores de risco capazes de afetar a hemodinâmica cerebral (hipertensão arterial, doença arterial coronária, diabetes, dislipidemia).



Tabela 01 referente às respostas hemodinâmicas em paciente normais e em pacientes com doenças cardiovasculares.                                
                                      
 Efeito do fumo na pressão arterial


  Embora uma série de estudos epidemiológicos tenha mostrado que os valores de pressão arterial são menores em fumantes em relação aos não-fumantes (um achado que pode ser explicado por menor peso corpóreo observado nos fumantes), o fumo tem-se mostrado um forte preditor de desenvolvimento de hipertensão arterial. Assim, homens que fumam 20 cigarros/dia apresentam mais do que o dobro da probabilidade de desenvolver hipertensão arterial ao longo de 11 anos.
   Existem também inúmeras evidências de que o fumo de um cigarro induz um importante e prolongado aumento na pressão arterial. Em estudo realizado com dez fumantes normotensos que, com monitorização contínua e batimento a batimento da pressão arterial e da frequência cardíaca, fumaram um cigarro a cada 15 minutos peloperíodo de uma hora, demonstrou-se que, após fumo do primeiro cigarro, ocorreu elevação aguda da pressão arterial sistólica, com pico entre 2 e 4 minutos após o ato de fumar, e que permaneceu elevada pelos 15 minutos subsequentes.Com o fumo do cigarro sucessivo ocorria a mesma elevação observada após o cigarro inicial. A pressão diastólica também elevou-se significativamente e houve, associadamente, taquicardia importante e mantida ao longo do tempo de estudo.
   O fumo induz aumento não apenas dos valores absolutos da pressão arterial, mas também da sua variabilidade, com aumento aproximado de 30% nos desvios padrões da pressão arterial diastólica e da pressão arterial média. O aumento da variabilidade da pressão arterial está implicado no desenvolvimento de lesões de órgãos-alvo da hipertensão arterial (hipertrofia de ventrículo esquerdo, doença renal, etc.). Em artigo publicado no American Journal of Hypertention, a variabilidade da pressão arterial foi relacionada à danos cerebrais silenciosos na substância brancas de pacientes com hipertensão essencial.
   O conjunto dessas observações sugere que o fumo exerce um importante efeito hipertensivo que, em associação com as alterações hemodinâmicas descritas anteriormente, pode ser responsável pelo aumento de risco cardiovascular associado ao tabagismo.
  

   Mecanismos envolvidos no efeito pressor do fumo  
 
  Diversos mecanismos têm sido apontados para explicar os efeitos pressores e vasoconstritores do cigarro. Por exemplo, a nicotina pode aumentar a pressão arterial diretamente por aumento do tônus do músculo liso vascular ou por aumento da vasopressina.
   Além disso, os efeitos hemodinâmicos do fumo podem ser mediados por ativação do sistema nervoso simpático. Esta última hipótese foi confirmada pela evidência de que os aumentos intensos e prolongados da frequência cardíaca e da pressão arterial induzidos pelo cigarro são atenuados pelo bloqueio farmacológico de receptores adrenérgicos alfa e beta*, estando associados a uma elevação acentuada e prolongada dos níveis plasmáticos de epinefrina e norepinefrina (principais tipos de catecolaminas, derivadas do aminoácido tirosina). (Rever controle hormonal da pressão arterial).
   A ativação simpática para o coração desencadeada pelo fumo representa a base fisiopatológica para as evidências de que o fumo induz vasoconstrição coronária.
   Ao lado das ações sobre o sistema nervoso simpático, o fumo aumenta agudamente a rigidez arterial em normotensos e hipertensos, sendo o aumento em hipertensos significativamente maior do que em normotensos.
   Além disso repetidas exposições ao cigarro não resultam em resposta adaptativa, mas em potenciação das respostas vasculares ao fumo. O aumento da rigidez arterial pode aumentar a pressão de pulso e o estresse de cisalhamento em arteríolas, contribuindo para o desenvolvimento de lesões em órgãos-alvo.
  Por fim, a vasoconstrição pode estar relacionada a alteração de mecanismos dependentes do GMP-cíclico (rever óxido nítrico), ao aumento da peroxidação hepática de lípideos e redução da atividade da superóxido dismutase (evita a redução da biodisponililidade de NO, que ocorreria por meio da sua reação com o ânion superóxido, formando peroxinitrito).

  Conclusões  


  O fumo aumenta o risco cardiovascular principalmente em decorrência de suas ações sobre o sistema nervoso autônomo e sobre a função endotelial.
* A adrenalina se liga em ambos receptores, α e β, causando vasoconstrição e vasodilatação, respectivamente. Embora os receptores α sejam menos sensíveis a adrenalina, quando ativados, irá substituir a vasodilatação mediada pelos receptores β. O resultado é que altos níveis circulantes de adrenalina causam vasoconstrição.



Fonte: Revista Brasileira de Hipertenção, artigo de Dante Marcelo Artigas Giorgi, doutor em Nefrologia pela Universidade de São Paulo, Assistente da Unidade Clínica de Hipertensão do Instituto do Coração HCFMUSP, titulado "Tabagismo, Hipertensão Arterial e Doença Renal".
Post realizado por: Tainá Vieira Nilson.  

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Vida sedentária: potencial inimiga do coração





  
   A hipertensão arterial sistêmica representa uma das maiores causas de morbidade cardiovascular no Brasil e acomete 15% a 20% da população adulta, possuindo também considerável prevalência em crianças e adolescentes. Considerada um dos principais fatores de risco de morbidade e mortalidade cardiovasculares, representa alto custo social, uma vez que é responsável por cerca de 40% dos casos de aposentadoria precoce e absenteísmo no trabalho em nosso meio. A identificação e o tratamento de pacientes com hipertensão arterial sistêmica constituem um problema de saúde pública no Brasil. O sedentarismo também constitui importante fator de risco, já estando bem estabelecida a ocorrência de maior taxa de eventos cardiovasculares e maior taxa de mortalidade em indivíduos com baixo nível de condicionamento físico. Estima-se que a prevalência do sedentarismo seja de até 56% nas mulheres e 37% nos homens, na população urbana brasileira. Modificações no estilo de vida, incluindo exercício físico, são recomendadas no tratamento da hipertensão arterial. Estudo envolvendo 217 pacientes de ambos os sexos, com idade variando de 35 a 83 anos, mostrou que a adesão a medidas não farmacológicas, dentre as quais a prática de exercício físico, promoveu sensível efeito na redução dos níveis pressóricos. Estudos randomizados mostraram efeitos indesejáveis do tratamento farmacológico em subgrupos de pacientes com hipertensão arterial sistêmica, sugerindo uma mudança na abordagem do tratamento dos mesmos. O efeito do exercício físico sobre os níveis de repouso da pressão arterial de grau leve a moderado é especialmente importante, uma vez que o paciente hipertenso pode diminuir a dosagem dos seus medicamentos anti-hipertensivos ou até ter a sua pressão arterial controlada, sem a adoção de medidas farmacológicas. A tendência de utilizar precocemente agentes farmacológicos foi substituída por agentes não farmacológicos, dentre estes, o exercício físico aeróbico tem sido recomendado para o tratamento da hipertensão arterial sistêmica leve. Todavia, somente 75% dos pacientes hipertensos são responsivos ao treinamento físico, uma vez que a hipertensão arterial sistêmica é uma síndrome poligênica e que pode ser influenciada pela herança genética.   
    A Sociedade Brasileira de Cardiologia recomenda que os indivíduos hipertensos iniciem programas de exercício físico regular, desde que submetidos à avaliação clínica prévia. Os exercícios devem ser de intensidade moderada, de três a seis vezes por semana, em sessões de 30 a 60 minutos de duração, realizados com frequência cardíaca entre 60% e 80% da máxima ou entre 50% e 70% do consumo máximo de oxigênio. Com discretas modificações, essas recomendações estão concordantes com as de outras entidades internacionais.

   Além disso, a prática de exercícios físicos também são muito importantes para regularem nosso colesterol, abaixando os níveis de LDL e aumentando os níveis de HDL
 * Lipoproteína de baixa densidade (LDL) - Esse colesterol "ruim" é a forma pela qual o colesterol é transportado no sangue e é a principal causa de acúmulo nocivo de gordura nas artérias. Quanto maior o nível de colesterol LDL no sangue, maior é o risco de doença cardíaca.
* Lipoproteína de alta densidade (HDL) - Esse "bom" colesterol transporta o colesterol do sangue para o fígado, onde ele é eliminado. HDL previne o acúmulo dcolesterol nos vasos sanguíneos. Níveis baixos de LDL aumentam o risco de doença cardíaca.





Post realizado por Teresa Tristão

quarta-feira, 1 de junho de 2011

A Genética na Hipertensão Arterial

   A hipertensão arterial pode ser entendida como uma síndrome multifatorial, de patogênese pouco elucidada, na qual interações complexas entre fatores genéticos e ambientais causam elevação sustentada da pressão. Em aproximadamente 90% a 95% dos casos não existe etiologia conhecida ou cura, sendo o controle da pressão arterial obtido por mudanças do estilo de vida e tratamento farmacológico, como já foi falado em outras discussões. O caráter hereditário aparece em 74% dos sujeitos. Dos fatores envolvidos na fisiopatogênese da hipertensão arterial, um terço deles pode ser atribuído a fatores genéticos.
   A teoria predominante sobre a genética na hipertensão arterial é que essa resultaria de uma ou mais anormalidades dentro de um conjunto complexo de sistemas, como o transporte de eletrólitos, os mecanismos de controle simpático e endócrino, cada qual com alterações genéticas em potencial. A ocorrência de alteração em algum desses genes, ou uma combinação de alterações, resultaria na manifestação clínica de hipertensão arterial.
   Contribuindo para essa hipótese, observa-se que a expressão da hipertensão arterial na população, como numa doença poligênica, não se encontra distribuída de forma presente ou ausente, mas de forma contínua, sem limites nítidos entre o normal e o anormal. Estudos realizados na era pré-molecular sugerem que os fatores hereditários contribuem em pelo menos 20 a 50 % da variação da pressão arterial em humanos.
   Quanto à raça, na população adulta, é bem determinado que a hipertensão arterial essencial tem maior prevalência, morbidade e mortalidade nos negros. Na infância, isso ainda não está bem estabelecido. Assim, apesar de a pressão arterial ter uma tendência a ser mais alta em crianças negras do que em brancas, a diferença não parece ser clinicamente relevante, quando se utiliza a correção para o tamanho corporal e o grau de maturação sexual.

Fonte: SALGADO, Cláudia Maria  and  CARVALHAES, João Thomaz de Abreu. Hipertensão arterial na infância. J. Pediatr. (Rio J.) 2003, vol.79, suppl.1, pp. S115-S124. ISSN 0021-7557.Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/jped/v79s1/v79s1a13.pdf
SILVA, Jorge Luis Lima; SOUZA, Solange Lourdes de - Fatores de risco para hipertensão arterial sistêmica versus estilo de vida docente. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 06, n. 03, p. 330-335, 2004. Disponível em http://www.fen.ufg.br/


Daniele Barreto de Lima